"No
sonho, idealizado nos nove meses de gestação, não havia som, a cozinha
não estava permanentemente no cenário, a fralda trocada não tinha
cheiro, o bebé não tinha a cabeça torta e a mãe e o pai estavam de banho
tomado. Porque o nosso cérebro sonha limpinho e com recurso ao photoshop.
(…) Então que me apercebi desta banalidade, que os filhos nascem e
muitos dos pais entram em crise. (..) As tréguas são os cinco minutos a
sós na casa-de-banho e até mesmo ir ao supermercado é válido para
desanuviar.
Podemos culpar as novas identidades, a adaptação, o sono e o cansaço que geram tolerância zero, é tudo verdade. Mas cá para mim, desconfio que a razão principal é bastante mais quotidiana e menos profunda: o bicho papão do casal são as tarefas domésticas. Porque a vida conjugal pós-bebé é tarefeira que se farta. E ser mãe e pai é bom, muito bom. Tarefas à parte. No final, é como diz a frase do poeta: a vida é tudo o que acontece fora do planeado."
"Mas o Dedão d’Ouro vai mesmo para os indicadores, sem os quais tudo seria mais difícil. É que estas falanges carnudas são incansáveis: enfiam-se no bico da tetina do biberão para aniquilar qualquer pingo de leite vivo, entram narina adentro da Laura para soltar o macaco bandido que ela não consegue expulsar, apontam a migalha de pó onde a chucha poderá cair, espalham creme delicadamente como se quer num rabinho de bebé, afogam-se na água do banho a garantir que a temperatura está amena à sua pele tenrinha e limpam cera de orelhas, baba, lágrimas, ranho, cocó."
"Como todas as marcas, a Mãe® também aposta bastante em promoções - até mesmo antes do seu lançamento no mercado, numa estratégia de pré-adesão. Como há, literalmente, mais mulheres que homens, é fácil encontrar mulheres aspirantes a Mães, dispostas a dar um desconto a quem lhes faça um filho. Uma vez brindadas - e exaustas das noites por dormir - são capazes de acionar ofertas de última hora: “Bebé, se comeres a sopa toda, deixo-te ouvir o Tony Carreira enquanto desfazes o cão de pelúcia”.
Mas o segredo para o seu grande sucesso, a razão da sua liderança inabalável, é este: não há cópia possível da marca Mãe®. Nem na China. Por isso, talvez seja a única marca no mundo inteiro que não vive da ameaça das marcas brancas à venda no mercado. Porque Mãe®, para o consumidor, há só uma."
Podemos culpar as novas identidades, a adaptação, o sono e o cansaço que geram tolerância zero, é tudo verdade. Mas cá para mim, desconfio que a razão principal é bastante mais quotidiana e menos profunda: o bicho papão do casal são as tarefas domésticas. Porque a vida conjugal pós-bebé é tarefeira que se farta. E ser mãe e pai é bom, muito bom. Tarefas à parte. No final, é como diz a frase do poeta: a vida é tudo o que acontece fora do planeado."
"Mas o Dedão d’Ouro vai mesmo para os indicadores, sem os quais tudo seria mais difícil. É que estas falanges carnudas são incansáveis: enfiam-se no bico da tetina do biberão para aniquilar qualquer pingo de leite vivo, entram narina adentro da Laura para soltar o macaco bandido que ela não consegue expulsar, apontam a migalha de pó onde a chucha poderá cair, espalham creme delicadamente como se quer num rabinho de bebé, afogam-se na água do banho a garantir que a temperatura está amena à sua pele tenrinha e limpam cera de orelhas, baba, lágrimas, ranho, cocó."
"Como todas as marcas, a Mãe® também aposta bastante em promoções - até mesmo antes do seu lançamento no mercado, numa estratégia de pré-adesão. Como há, literalmente, mais mulheres que homens, é fácil encontrar mulheres aspirantes a Mães, dispostas a dar um desconto a quem lhes faça um filho. Uma vez brindadas - e exaustas das noites por dormir - são capazes de acionar ofertas de última hora: “Bebé, se comeres a sopa toda, deixo-te ouvir o Tony Carreira enquanto desfazes o cão de pelúcia”.
Mas o segredo para o seu grande sucesso, a razão da sua liderança inabalável, é este: não há cópia possível da marca Mãe®. Nem na China. Por isso, talvez seja a única marca no mundo inteiro que não vive da ameaça das marcas brancas à venda no mercado. Porque Mãe®, para o consumidor, há só uma."
Sofia Anjos.
Jornalista do Público
Não tem blog nem tem livro. Um desperdício...
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